Há uma seleção absurdamente vasta de filmes musicais e documentários disponíveis na Netflix, Hulu, HBO Go, e por aí vai. Mas é difícil saber quais realmente valem os seus 100 minutos. Watch the Tunes vai te ajudar a escolher qual documentário musical vale o seu tempo de Netflix and Chill todo fim de semana. A edição desta semana cobre Finding Fela.
É louco pensar que nos anos 70 e 80, Fela Anikulapo Kuti talvez fosse o segundo africano mais famoso do mundo, perdendo apenas para Nelson Mandela, e mesmo assim ainda há uma enorme quantidade de pessoas aqui no ocidente que têm quase zero consciência do trabalho dele como músico e ativista. O filme de Alex Gibney, Finding Fela, tenta corrigir esse descompasso e faz um trabalho admirável o suficiente lidando com essa tarefa impossível. O produto final acaba funcionando mais como um lugar para as pessoas molharem os pés no rio turbulento de sua obra do que uma análise completa de Fela, mas você tem que começar de algum lugar, né?
Eu fui assistir a este filme sem muito conhecimento sobre o passado de Fela. A maior parte da minha informação sobre o homem vem de seu papel tangencial em Beware of Mr. Baker, o filme de Ginger Baker que analisamos aqui nesta coluna há algumas semanas. Infelizmente, enquanto Fela teve um papel enorme na vida do Sr. Baker, a influência inversa não parece ser proporcional, pelo que os cineastas se referem. O que conseguimos ver, no entanto, é uma quantidade enorme de imagens dos bastidores do musical da Broadway Fela!, que notavelmente ganhou alguns prêmios Tony em 2010. Embora o musical seja interessante por si só, a linha narrativa ao longo do documentário acaba emaranhando mais do que ampliando a história maior de Fela, que é estranhamente única, politicamente volátil e, acima de tudo, uma batida funk ininterrupta.
Gostaria de pensar que foi apenas uma serendipidade cheia de alma que, no mesmo ano em que lançou Finding Fela, Alex Gibney também lançou Mr. Dynamite: The Rise of James Brown. Ambos eram líderes de banda imponentes, conhecidos por multar músicos por infrações, ambos eram admirados como líderes culturais por seu povo, e ambos eram gênios do groove, mas se você esticar a comparação muito mais, ela fica instável. Fela era uma entidade política na Nigéria, apontando dedos e nomeando nomes quando pregava seu evangelho anti-apartheid semanalmente do púlpito de sua própria discoteca pessoal, quando não estava levando as massas à felicidade orgiástica com versões estendidas de suas já longas canções. Ele foi preso e agredido pela polícia, sua casa foi bombardeada, e sua mãe foi jogada para a morte do segundo andar do apartamento de Fela durante uma operação policial. Vemos imagens em Finding Fela de outro documentário, o Music Is The Weapon, onde Fela mostra as dezenas de cicatrizes que ele recebeu de agressões policiais ao longo dos anos, mas através de tudo isso Fela nunca parou de representar seu papel como a voz do povo.
Para todas as suas grandes obras, Finding Fela toca (mas mais ou menos imediatamente passa por cima) alguns aspectos menos impressionantes da personalidade de Fela, incluindo sua fé no charlatão do vodu “Professor Hindu”, cujas travessuras fizeram com que Fela fosse preso por mais de um ano, e a fama de mulherengo irresponsável de Fela, que inegavelmente contribuiu para sua morte em 1997 pelo vírus da AIDS. Para ser justo, não é só Gibney que ignora essas partes desagradáveis, já que o diretor da Broadway também admite que foi muito mais fácil ignorar esses aspectos da vida de Kuti do que apresentar uma narrativa que mostrasse todos os seus defeitos. Dada as complexidades que a história de Fela Kuti apresenta para praticamente qualquer biógrafo ou documentarista, Finding Fela faz um bom trabalho quebrando o gelo sobre quem foi Fela e o ambiente cultural em que ele se destacou, graças a, e apesar de. Este é um cara que lançou oito álbuns só em 1977, afinal, então você poderia provavelmente assistir a três documentários e ainda sentir que está apenas começando a arranhar a superfície, mas pode ter certeza de que vale a pena descobrir o que está abaixo.
Na semana que vem, vamos conhecer os homens mais bem-sucedidos da música pop, o promotor de shows e produtor de turnês (tapa ouvidos!) Who the F**k is Arthur Fogel?!
Chris Lay é um escritor freelance, arquivista e balconista de uma loja de discos que vive em Madison, WI. O primeiro CD que ele comprou para si mesmo foi a trilha sonora de 'Dumb & Dumber' quando tinha doze anos e, a partir daí, as coisas só melhoraram.