Há uma seleção absurdamente vasta de filmes e documentários musicais disponíveis na Netflix, Hulu, HBO Go e por aí vai. Mas é difícil saber quais realmente valem seus 100 minutos. O Watch the Tunes vai te ajudar a escolher qual documentário musical merece o seu tempo de Netflix e Chill todo fim de semana. A edição desta semana cobre All Things Must Pass: The Rise & Fall of Tower Records, que está disponível para streaming na Amazon com um complemento do Showtime.
Há um misticismo inegável no trabalho de "atendente de loja de música". Desde John Cusack em High Fidelity e Liv Tyler em Empire Records, até Annie Potts em Pretty in Pink, existe uma imagem muito específica de “legal” que vem do título do emprego. Pô, até Laranja Mecânica fez o papel de “reabastecedor techno-Beethoven” ou qualquer coisa assim nesse cavernão neon parecer super maneiro. Infelizmente, os tempos mudaram. Embora estejamos no que você poderia chamar de um boom do vinil agora, o mercado para varejistas físicos secou bastante na última década. Para entender melhor como as coisas eram boas para quem vendia discos, assim como para as pessoas que assinaram seus contracheques, é só dar uma olhada no filme extremamente divertido e informativo de Colin Hanks All Things Must Pass: The Rise & Fall of Tower Records.
A Tower, fundada por Russ Solomon ao lado da farmácia de seu pai, começou em Sacramento, Califórnia, bem na hora em que o mercado de singles de sete polegadas estava se transformando em álbuns completos. Com Surfin Safari dos Beach Boys (mencionado aqui como o termômetro que virou a maré totalmente para o formato LP) lançando em 1962, Solomon e sua equipe estavam no lugar certo, na hora certa, para ganhar muito dinheiro. Segundo ele conta no filme, os primeiros anos da Tower foram uma série de momentos de pura sorte, notavelmente a expansão para o sudoeste em uma loja de San Francisco que Solomon encontrou acidentalmente enquanto estava profundamente de ressaca após uma noite de festa. Quando as pessoas descrevem o passado como “mais simples”, a facilidade com que a Tower se mudou para o coração do grito hippie é o que eu acho que elas estão falando. Contudo, essa atitude quase irresponsavelmente livre acabaria levando à queda do mega-varejista algumas décadas depois.
Tem sido feita tanta especulação sobre a internet, e o compartilhamento de arquivos estilo Napster em particular, matando as lojas físicas, mas para a Tower especificamente, as coisas eram um pouco mais complicadas. Não consigo imaginar como deve ter sido a sensação de passar daquela primeira loja e ter a oportunidade de se expandir para o Japão e a Europa e por todo o resto do mundo, fazendo tudo do seu jeito com artes promocionais caseiras malucas na vitrine, mas foi essa expansão descontrolada que colocou a empresa em problemas quase tanto quanto o pequeno aplicativo do Shawn Fanning que prejudicava seu lucro. Fiel à estética familiar deles, na hora em que as coisas estavam irrevogavelmente ruins, os altos executivos da Tower ainda eram, na sua maioria, pessoas que estavam lá desde o começo, e mesmo que agora estivessem ganhando centenas de milhares por ano, você ainda sente por eles enquanto explicam o quanto doeu ver a coisa na qual colocaram tanto esforço e sangue se desmoronar na frente deles. Essa vibe de família unida é a cola que manteve o negócio unido, e por extensão All Things Must Pass, juntos. Essas pessoas realmente se importavam umas com as outras e com a música que estavam vendendo.
Dito isso, se há algo que eu poderia criticar neste documentário, é que ninguém realmente questiona os atos abertamente sexistas do clube dos homens em alta gestão. Solomon destaca a falta de um código de vestimenta como uma das principais atrações para novos funcionários, mas descobrimos depois que, na verdade, as mulheres eram obrigadas a usar saias para que os homens pudessem dar uma espiadinha na roupa íntima delas enquanto reabasteciam as prateleiras? Eu entendo que era nos anos 70, mas isso é inaceitável. Havia os relacionamentos casuais entre a equipe inferior nos fundos, claro, mas para certos altos executivos olharem para trás e se orgulharem de como alavancaram seu poder sobre funcionárias do sexo feminino pode, merecidamente, levantar algumas sobrancelhas.
Ainda há literalmente centenas de ótimas lojas de discos por aí, em todo este grande país nosso, mas quando a Tower desmoronou no meio dos anos 2000, foi o maior canário na mina de carvão para esse modelo de negócio, e marcou um ponto de virada cujos efeitos, mesmo uma década depois, ainda sentimos. Pô, eu trabalho meio período em uma loja de discos e algumas pessoas, quase surpresas que ainda estamos fazendo nossa parte, vão se inclinar sobre o balcão e perguntar em um tom baixo “Como estão os negócios?” como se quisessem sugerir “Você pode me contar... quão ruim está?” quando, na verdade, não tem nenhuma piada, as coisas estão bem legais. Dificilmente voltaremos aos dias em que um lugar como a Tower era capaz de estocar praticamente todos os álbuns já feitos e depois vender mil cópias de um álbum individual em uma semana, mas com All Things Must Pass temos uma excelente cápsula do tempo do que era estar vivo naquelas poucas e, em última instância, fugazes décadas.
Chris Lay é um escritor freelance, arquivista e balconista de uma loja de discos que vive em Madison, WI. O primeiro CD que ele comprou para si mesmo foi a trilha sonora de 'Dumb & Dumber' quando tinha doze anos e, a partir daí, as coisas só melhoraram.