“É algo que [jazz legend] Chick Corea uma vez disse,” diz Sergio Sayeg, o artista brasileiro conhecido como Sessa. “Quando você é jovem, quer encontrar sua voz na música. Você encontra um instrumento que explode a profundidade da sua existência, como uma respiração que torna as coisas maiores do que aquele momento. Eu acho que esse foi um pouco do exercício com Estrela Acesa. É uma metáfora. A música é a estrela ardente, uma estrela guia. Você a segue, não importa o quão perdido você possa estar.”
O instrumento de Sessa é seu violão clássico de cordas de nylon, mas, em um sentido mais amplo, a voz musical de Estrela Acesa — em inglês, “Burning Star” — é definida por delicados ramos de flauta, baixo flutuante e percussão manual em constante mudança. Esses elementos são complementados pela orquestração mais sutil e destacados pelo tenor suave e as letras que borram as linhas entre o pessoal e o metafísico. É uma variação sublime da Tropicália, o som brasileiro que amadureceu no final dos anos 60, adicionando aos estilos tradicionais como samba e bossa nova, elementos ocidentais do rock e do jazz.
O álbum segue seu álbum de estreia de 2019, Grandeza (“Grandeza”), uma mistura mais crua que estabeleceu o nome do cantor e compositor de São Paulo e seu espírito desbravador. No álbum, ele se dedica a questões de amor, intimidade e espiritualidade: valores importantes em um tempo de crise global, acredita Sessa. “O título Grandeza sugere que quando você colocar a agulha nele, ouvirá Wagner!” ele diz, rindo. “Na verdade, a música está tão ao fundo que você precisa dar alguns passos mais perto do alto-falante. Não é um conceito super coeso — esse não é meu estilo — mas sinto que minha música convida você a entrar.”
Não que Sessa seja apenas sobre convites e alegria: há dúvidas e escuridão também. “Estou ciente dos limites dos relacionamentos e do lado negativo do mundo,” diz ele. “Há aspectos de dor e sangue também em Estrela Acesa, eu não gostaria de evitar falar sobre isso. Eu acho que não haveria canções sem isso!”
Sessa encontrou um lado positivo no lockdown após se mudar para a ilha de Ilhabela, na costa de São Paulo, onde seu percussionista, Biel Basile, tinha uma casa na praia. “Eu tinha backing vocals femininos em Grandeza, e quando estava promovendo, queria um coro grande para os shows,” ele lembra. “O que foi a pior ideia em uma pandemia, ter todo mundo cantando no mesmo microfone! Então, eu tive tempo sozinho para meditar e esboçar mais ideias e arranjos. Grandeza é só violão, vozes e percussão manual com alguns elementos disruptivos de Música de Selvagem, um grupo de free jazz em São Paulo. Eu levei isso para Estrela Acesa, mas os elementos se tornaram mais de uma banda de apoio clássica. Ainda poucos tambores, mas com baixo mais pesado e sons mais ricos.”
Uma faixa chave, que mostra o retrato realista do amor no álbum, é “Que Lado Você Dorme?” (“De que lado você dorme?”). “Eu me isolei para terminar o disco enquanto já estava isolado em Ilhabela,” ele diz. “Recebi este e-mail genérico estúpido: ‘Cinco dicas para compositores,’ mas dane-se, vou ler. Uma dica era, ‘Volte para a música que você amou primeiro.’ Pensei em Leonard Cohen, que falava sobre amor, [mas] não de uma maneira óbvia e feliz. Então, comecei a brincar com essa metáfora de ‘de que lado você dorme?’ Pode ser flerte, ou pode ser não conhecer totalmente o outro, ou a surpresa do outro. Para casais de longa data, estamos do mesmo lado? Havia tantas ressonâncias.”
A música que Sessa (um apelido que Sayeg tem há tanto tempo que ele não se lembra de quando começou) amou primeiro também estava conectada, tangencialmente, a Leonard Cohen — e sua religião compartilhada. Criado em uma comunidade sefaradita judaica observante e isolada (seus ancestrais vieram para o Brasil do Líbano e da Síria), Sessa ficou fascinado pelos rituais de canto na sinagoga. “Era mais uma oração do que música,” ele recorda, “Mas achei a ornamentação árabe realmente bonita. Mas eu fiquei muito dividido. Era uma comunidade extremamente conservadora e, mesmo agora, grandes setores apoiam [o presidente de extrema-direita Jair] Bolsonaro.”
Aos 13 anos, Sessa começou a tocar violão clássico, “e comecei a encontrar meu próprio caminho.” Enquanto ainda estava no ensino médio, ele se juntou ao Garotas Suecas, uma formação flutuante que se aventurava no lado psicodélico do espectro da Tropicália. Quando tinha 16 anos, o trabalho de seu pai levou a família para Nova York; agora era a vez das bandas garage rockers combustíveis The Dirtbombs e The Detroit Cobras cativarem Sessa: “Foi tudo perfeitamente moldado para o coração adolescente, para a energia adolescente,” ele diz. Mas, dado que ele trabalhava na loja de discos do East Village, Tropicalia In Furs, “Eu tinha acesso a todos os discos brasileiros incríveis, raros ou populares. Eu simplesmente absorvi tudo.”
As entrevistas de Sessa sempre prestam homenagem aos seus antecessores musicais: não apenas às luzes principais da Tropicália, Gilberto Gil e Caetano Veloso, mas também a Jorge Mautner, Erasmo Carlos, os arranjadores Rogério Duprat e Waltel Branco, Milton Nascimento e o álbum épico de Lô Borges, Clube Da Esquina. Além de Leonard Cohen, ele também cita seu amor por Bill Callahan, outro minimalista que canaliza profundidade emocional máxima. Afinal, a Tropicália era um experimento aberto em fusão. Como se Sessa estivesse incorporando a ideia de fusão musical, ele vive entre Nova York e São Paulo, enquanto toca baixo regularmente para o incendiário israelense Yonatan Gat, um guitarrista no molde avant-rock de Gary Lucas. No entanto, quando Sessa começou a encontrar sua própria voz, ele voltou às suas raízes brasileiras.
“Não era uma busca por pureza, era mais uma conexão com uma tradição muito forte,” ele explica. “Eu tinha esse quarto minúsculo alugado no Brooklyn, com os songbooks clássicos brasileiros, como Antônio Carlos Jobim e Gilberto Gil, para me grounding neste período intenso. Eu também estava vivendo por semanas, meses, em diferentes lugares, em turnê, e era mais barato pegar um avião para São Paulo do que manter um lugar em Nova York. Conheci Música De Selvagem lá, e Pato Preto, esse grupo de cantores, e disso saiu Grandeza.”
É uma era diferente do final dos anos 60, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso foram brevemente presos e depois exilados pela ditadura militar brasileira por “promover” aspectos culturais decadentes do Ocidente. Sessa vê o presidente Bolsonaro como “um renascimento da ditadura militar... É impossível não ver o Brasil como um país profundamente violento, desigual e racista,” mas ele escolhe não abordar o sistema falido do Brasil em suas canções.
“Leonard Cohen disse que, como compositor, não é um buffet onde você pode escolher: você é mais como um rato no fundo de um barril, você pega algo no escuro e responde. Não que eu queira empurrar a poeira para debaixo do tapete, mas homens fazendo guerra para que 10 pessoas possam continuar bilionárias é uma informação amplamente compartilhada hoje. Para mim, a música tem esse privilégio de fazer a expressão passar por cima das palavras, porque as palavras na canção são uma explosão... um poema. É onde me sinto em casa. Eu aceitei a vida de expressar o coração. Mas a vida de um artista ainda é política aqui. Em um nível institucional, o governo não apoia os artistas, então fazer um disco tem um tom de resistência!”
London-based Martin Aston has written about music for over 30 years, in publications such as MOJO, Q, The Guardian, Details, BBC Online, Attitude and The Vinyl Factory. He’s also authored four books, including Facing The Other Way: The Story Of 4AD.
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